sábado, 26 de novembro de 2011

Chaplin e sua imortal imagem



Logo no começo do mês passado fiquei sabendo que aconteceria em São Paulo, no Instituto Tomie Ohtake, uma exposição de fotos e vídeos sobre Charles Chaplin. Logo que vi, pensei ''Não perderei por nada nesse mundo! '‘. Acontece que com a correria do dia-a-dia,(leia-se trabalhos da faculdade,stress no trabalho e outras mil preocupações) eu fui deixando para lá. Ontem me dei conta de que este é o último fim de semana em que a exposição estará em cartaz. Confesso que quase desisti por causa do cansaço e da falta de companhia,mas no fim das contas algo me disse que se eu fosse,mesmo sozinha,não iria me arrepender de forma alguma .

A mostra 'Chaplin e sua imagem ' consiste em um apanhado de toda a carreira de Charles Chaplin, que nasceu em família de artistas e conheceu os palcos desde pequenino, através de mais de 200 fotos (algumas delas inéditas) e vídeos do artista.

A grande sacada da exposição é mostrar a obra de Chaplin através do nascimento e ''morte '' de seu personagem mais emblemático: o vagabundo Carlitos, que foi criado e apresentado por Chaplin em 1914, em ''Carlitos Repórter''.

Nos primórdios de Carlitos, o personagem tinha como característica principal uma malandragem que lhe conferia certo ar de vilania: cobiçava a mulher alheia e trapaceava, além de ter no rosto uma expressão pesada e um sorriso torto, feio. Pode-se conferir o Carlitos ''vilão'' em filmes como ''Carlitos quer casar'',''Mabel at the Wheel'' e ''Carlitos bombeiro''.

A partir de 1917,quando assina contrato com a First Nacional, Chaplin passa a ter o controle criativo de suas produções,e decide tornar o personagem de Carlitos mais humano : para isso ,carrega na maquiagem para poder criar mais expressões e troca o tenebroso sorriso por uma dose de doçura . A malandragem do vagabundo permanece ali presente,o que muda é seu olhar que se torna acolhedor, e nos inspira carinho,além de uma graça quase ingênua,quase infantil.

Com o passar dos anos e o desenvolvimento do personagem,a grande curiosidade do público era ouvir a voz do adorável personagem e de seu criador. Chaplin queria que o personagem permanecesse mudo, mas sua voz foi revelada na década de 1930, que marca um Charles Chaplin mais maduro e seguro para mostrar suas opiniões. Dessa época ,temos contato com sua visão política,crítica social e temas como a relação do homem com as máquinas em filmes como Luzes da Cidade, O grande ditador e Tempos modernos, primeiro filme em que aparece a tão aguardada voz de Carlitos. A esperada cena é mostrada quase ao fim do filme, e nela ,Carlitos aparece cantando.Nessa cena temos mais uma mostra da genialidade de Chaplin, que dizia que através do silêncio de Carlitos conseguiu alcançar uma linguagem universal,e que aquele silêncio era uma ''graça formidável'' : O personagem cantou,mas cantou numa língua inventada ,da qual não se entendia palavra alguma. Chaplin,que sempre havia usado a expressão corporal como linguagem, conseguiu adiar o momento da fala por um momento,usando apenas do SOM para saciar a curiosidade de seu público. O grande ditador foi o filme que marcou a despedida do personagem : Chaplin não via sentido em permanecer com o personagem em tempos de cinema falado.

A exposição mostra também como Chaplin influenciou diversas épocas: desde os milhares de imitadores até a pintura cubista de Fernand Léger.

Ainda bem que dei ouvidos a minha intuição, pois degustei cada foto e cada vídeo, e saí com os olhos marejados com tudo o que vi.

Chaplin é um artista genial e o cinema com toda certeza lhe deve muito. A mostra ressaltou de maneira feliz, o quanto é necessário celebrar artistas como ele e o quanto sua obra tem impacto atemporal de 8 a 80 anos.

Para ilustrar essa postagem,encerro com a famosa cena em que a voz de Carlitos é revelada.

Beijos da Pretah !


domingo, 20 de novembro de 2011

Por dentro da Pele de Almodóvar



O ano de 2011 está chegando ao fim, e sempre que um ano termina eu logo faço minha retrospectiva mental em forma de listas sobre o meu universo: as músicas que mais mexeram comigo, as exposições mais bacanas que assisti e por fim, os filmes que mais me emocionaram.

Esta última lista devo confessar, é a minha favorita e devo dizer que a disputa pelo primeiro lugar estava concentrada entre o adorável Meia noite em Paris, de Woody Allen e o desconcertante Árvore da Vida, de Terrence Malick quando de repente estreou aquele que tomou seu lugar no topo de minha lista e com louvor: A pele que habito, de Pedro Almodóvar.

Fui ao cinema sozinha numa tarde de sábado ensolarada, cheia de curiosidade de conferir se Almodóvar manteria a tradição de me impressionar e nunca me decepcionar com seus filmes, e fiquei muito contente em ver que além de Almodóvar voltar em seu melhor estilo, retornou com Antonio Banderas no elenco, com quem não trabalhava desde 1990 em Ata-me.

Em A PELE QUE HABITO, vemos tudo que é característico no cinema de Pedro Almodóvar: suas cores gritantes, personagens com traumas que se revelam no decorrer do filme e a presença feminina imponente, sexy... sexual.

A história gira em torno de Robert, personagem de Banderas, um reconhecido cirurgião plástico que mantém a belíssima Vera (Elena Anaya) como refém e está fazendo experimentos a fim de criar uma pele mais resistente que a humana. Até aí, podemos até classificar o filme como ficção científica ou suspense... Houve até quem o classificasse como terror. Mas essa é apenas a capa,o que vemos na superfície. No decorrer da história, há o entendimento para o comportamento de Robert, e através de flashbacks no meio do filme, A pele que habito começa a se revelar aos nossos olhos. Já com o segredo revelado, o filme torna-se mais e mais interessante a começar pelo título, que começa a fazer pleno sentido.

A trilha sonora de muito bom gosto é de Alberto Iglesias e também é parte fundamental do filme.

A pele que habito é um filme bizarramente inteligente, exagerado e desconcertante, que merece ser degustado com toda a paixão possível. De todas as classificações possíveis para esse filme, a melhor a se fazer é ‘’UM FILME DE ALMODÓVAR’’.


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Glory Box

O rádio ligado repetia a mesma música há alguns pares de horas e sempre ecoava o mesmo significativo verso: ''I just wanna be a woman''.
Enquanto escutava a música, ela o olhava com afinco e tentava entender a força que a mantinha ali, com o olhar fixo naqueles olhos que miravam distante.
A razão estava nos muitos detalhes daquele homem que a encantava de maneira singular.
''você me superestima, me vê com olhos de paixão'', dizia ele.
E será que ele, afinal de contas, não estaria certo ? Ela também fazia para si o mesmo questionamento.

O fato é que a mulher citada na canção, que também ela gostaria de ser o tempo todo, encontrava-se quando ele se fazia presente. Os tais ''olhos da paixão'' enxergavam o homem que ela sempre havia idealizado, e perceber que não mais se tratava de uma ilusão a atordoava e ao mesmo tempo a preenchia de um tipo de felicidade que não mais estava atrelada ao medo de perder, mas sim à sensação de ''que seja eterno enquanto dure''. O que ela queria é que, os impiedosos minutos que insistiam em correr, tivessem preguiça de passar enquanto ela estava ali.
Cada detalhe era de grande valia: desde a cara de êxtase na hora da cama até as piadas sem graça que compartilhavam na hora da pizza.
O cheiro, o toque, a língua, o abraço... Queria fundir-se a ele, queria ter sempre uma resposta pronta ao seu jeito de desarmá-la.

A música cantava seu desejo de ser uma mulher e, enquanto isso, ela ia colocando à mostra seus desejos, como se os tivesse retirando de uma gloriosa caixa que sempre esteve ali, preparada unicamente para ele abrir e desfrutar.
Foi dormir feliz afinal, porque se deu conta que aquilo poderia ser o princípio de um possível ''para sempre''. O que ela faria ao findar essa eternidade era outro capítulo...