domingo, 20 de julho de 2014

Recital

Depois de mais uma transa, ele foi tomar uma água. Eu fiquei ali, estirada no sofá. Quando ele voltou, me abraçou. Ao me abraçar, não resisti. Desabei. E ali, com minhas lágrimas escorrendo  em seus braços, comecei a pensar no porquê de me emocionar depois de um ato tão aparentemente carnal. Fazendo uma leitura mais profunda do que havia (mais uma vez) acontecido  há minutos atrás, interpretei que a ideia de abrir minhas pernas como uma casa para ele poder ficar à vontade, soava como a própria personificação de alguma poesia. Era como se cada gemido fosse um verso, e cada espasmo, um soneto. Sua boca ia falando a minha língua e fazendo rimas no meu corpo, ora mais ricas, ora mais sujas. As lágrimas corriam porque era difícil passar ilesa pela força daquele corpo, por aquele olhar de domínio. Era fascinante ser página em branco para que a cada capítulo, uma nova poesia fosse escrita.

 Era fácil contar com as lágrimas depois do recital.