Deveria estar dormindo, mas o frio não me deixa em paz. O vento gelado sabe que não o aprecio e por isso mesmo brinca de achar frestas por entre os cobertores para tocar minha pele, gelar minha espinha e me inquietar.
Apago
a luz e escuto o silêncio. Automaticamente, minha mente que se manteve quieta o
dia inteiro, começa a disparar mil pensamentos distintos por minuto. A dor na
nuca é quase instantânea. Faço um chá e tento relaxar, filtrando os pensamentos
em pastas.
Ao
fechar os olhos, começo a fuçar meu arquivo mental e lá encontro um álbum com
centenas de fotos que tirei de nós ao longo do tempo. Há fotos distorcidas no
fundo do baú, mas que ainda guardam o perfume dos primeiros dias cheios de
expectativa e curiosidade. Em meu baú imaginário há imagens de muitas noites
ensolaradas e regadas a boas conversas. É como se as fotos pudessem reproduzir
fragmentos do que foi dito no momento do click. Há ainda compartimentos de
fotos musicais, que te revelam aos meus olhos com versos que vão de Beatles a
Bob Dylan ou de Caetano a Gil, tudo junto e ao mesmo tempo.
Vejo
fotos de você com os olhos fechados e tenho captado em imagens todos os seus
trejeitos e manias, cada linha de expressão e cada cabelo branco que insiste em
aparecer.
Fuçando
um pouco mais, encontro muitas imagens de suas mãos nos meus seios, minhas mãos
cravadas em suas costas e de nossas roupas sobrepostas no chão, jogadas ao
longe, na pressa pela busca do prazer.
Há
fotografias em preto e branco, na luz de sépia, sob a claridade do sol e até
com infravermelho, revelando seu sono.
Fecho
o baú e abro os olhos sorrindo, chegando a conclusão de que cada momento ali
revisitado faz parte de mim, assim como uma tatuagem que não desgruda da pele e
mesmo se passada pelo laser, deixa marcas.
Me
pergunto por um instante porque não há fotografias físicas e me questiono
também se no seu álbum há imagens minhas. Mas aí já é uma outra história, para
outra madrugada sem sono... Volto no meu álbum imaginário e escolho nossa
melhor foto, que vai dormir comigo hoje, embaixo de meu travesseiro.
2 comentários:
Ameeeeeey
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