segunda-feira, 20 de setembro de 2010

PACIÊNCIA


Meus queridos,

Vim pedir um pouco de paciência comigo.....Ando numa tremenda falta de inspiração essas últimas semanas,mas em breve eu volto....e aos poucos vou visitando cada cantinho que me ausentei nesse quase um mês....

...Estou entre filmes ,livros,ideias,anseios sem fim.....cabeça lotada de pensamentos.....me sentindo um mistério para mim ...tentando me desvendar um pouco mais....mas não quero que me abandonem,leitores queridos!

Deixo vocês com um conto da Clarice (sempre Clarice Lispector),que eu tenho lido bastante e me emocionado,porque me vejo muito nele....e também com a música do los hermanos que me remete ao texto e também a mim e a minha enorme confusão.

LOGO VOLTO COM UM TEXTO INÉDITO.....desculpem a demora,um beijo enorme ♥



RESTOS DE CARNAVAL



Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa já ia se aproximando, como explicar a agitação que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.
No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um lança-perfume e um saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.
E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os mascarados, pois, era essencial para mim.
Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça - eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável - e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.
Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa, com os quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira.
Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga - talvez atendendo a meu mudo apelo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel - resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.
Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas - àidéia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na rua, morríamos previamente de vergonha - mas ah! Deus nos ajudaria! não choveria! Quando ao fato de minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola.
Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa.
Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge - minha mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo vestida de rosa - mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que cobriria minha tão exposta vida infantil - fui correndo, correndo, perplexa, atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros me espantava.
Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se, minha irmã me penteou e pintou-me. Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu havia lido, sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados. Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu morria.
Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos já lisos de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.




DEIXA EU BRINCAR DE SER FELIZ,
DEIXA EU PINTAR O MEU NARIZ?♪♫

11 comentários:

Cecília disse...

Vou esperar anciosa.. de tempo a vc mesma tbm, deixa as coisas fluirem.

Luiz disse...

às vezes o silêncio é necessário...fique tranquila. Amei v. falar da Clarice. Além disso, Restos de Carnaval é um dos contos que mais amo da Clarice, já postei algo sobre ele. Beijos!!!!

Xandão disse...

Olá olá, qt tempo heim. Eu não entendo muito de literatura, principalmente da brasileira. Vai ver é por isso q não sou muito bom escrevendo hehe Mas é sempre bom visitar seu blog. Bjo

Franck disse...

Valeu esperar: Clarice, Los Hermanos, Você... O silêncio, me disseram, é uma forma de comunicação tbém...
Uma semana inspiradora! Bjs*

Unknown disse...

Vou esperar ancioso...
Clarice é sempre bom; nao fique assim vc é uma menina criativa e a inspiraçao virá naturalmente não se preocupe pois não vamos abandona-la.
Beijos querida!!!

Lou Albergaria disse...

Você é mesmo fantástica, Joyce!

Até quando está em crise consegue ser genial!

Post lindo demais!

E vc é mesmo muito criteriosa. Não fica postando qualquer coisa. Só o que realmente a emociona. Isso é bárbaro!Sinal de que podemos sempre confiar no que escreve.

Tenha uma linda semana!!!

BEIJÃO!!!

brnoliver disse...

Todos vamos te esperar ansiosos, como não ter Paciência com tão fantastica cristura, desculpa a demora para comentar é quie não conseguia entrar na pagina de comments, Mas eu estou aqui a espera de suas idéias novas e das dicas, porque tu é uma pessoa de bom gosto e que sabe indicar as músicas, livros e filmes certos! Bjs!

Lou Albergaria disse...

Linda Moça,

Há presente para você no blog da Loba.

Te aguardo!

BEIJÃO!!!

Unknown disse...

Joyce, não importa se no encontro entre amigos, não trouxeste nem um salgadinho, o que nos basta é o teu sorriso, chegando bem de mansinho...

Um beijo minha querida.

Fica bem

Livinha

Anônimo disse...

Nada como deixar fluir não tenha pressa...

Tem sorteio no MENINA CAJUINA
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Manuela Freitas disse...

Querida Joyce,
O que é preciso é que te encontres, a inspiração então chegará e transbordará!...Eu espero por ti o tempo que for necessário, mas digo-te eu não gosto muito de esperar! rsrsrsrs
Beijinhos,
Manuela