quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

L'amour


Porque fazia do amor sua bandeira e linha de frente, vivia do desafio de colher o bônus e o ônus de suas escolhas, sempre guiadas por forças maiores que seu próprio corpo, o que sempre a impedia de ir na contramão de seu desejo.
Conviver 24h por dia com o amor dentro de si não era tarefa das mas fáceis: sentia - se dividida entre as dores e as delícias que o amor oferecia, e num ato indolente, sentia preguiça de enfrentar a parte ruim, querendo unicamente sentir-se deleitada.
Sentia orgulho em bater no peito e dizer - se mulher... Essa condição era para ela uma dádiva para poucos. Carregar consigo o dom de dar a vida, de alimentar com seu próprio corpo e paralisar com um simples olhar eram algumas das características basicamente femininas que ela se encantava. Era mulher, mas sua frustração era justamente não conseguir usar 100% dos tais ''feitiços'' femininos, os quais sempre ouvira falar e presenciara em tantas histórias por aí.
O que a impedia de jogar com seus encantos era justamente o amor. Quando se interessava por alguém de modo carnal, conseguia exercer sobre seu ''alvo'' um mistério instigante: era altiva e ditava as regras. Se elas não fossem seguidas, o jogo terminava e ela se mantinha do alto de seu orgulho, que jamais era ferido.
Contudo, via o jogo virar a partir do momento em que o amor atravessava seu caminho. Quando estava com o amor ao seu lado, não sentia necessidade de jogar e sucumbia ao coração. Dedicava poesias, versos de música e empenhava tudo de si.
Com o amor por perto, não percebia que de vez em quando é preciso de um pouco de limão para dar tempero à salada. Pecava por excesso. Não dosava. De repente o que era leve tornava-se pesado e o amor adoecia, ia perdendo o mistério.
Junto com a doença vinha o desespero, e com o desespero a preguiça de enfrentar o que poderia vir a doer. Faltava coragem. O amor lhe fizera mal acostumada.
Porque fazia do amor sua bandeira e linha de frente, estava sempre vulnerável, e ainda que não conseguisse se utilizar de toda a gama de joguetes e artimanhas que a arte feminina lhe havia dado sugava o doce do amor até o fim, ainda que enjoasse e ainda que, assim por acidente, o amor crescesse e por fim a engolisse.

Seria doce morrer de amor.

10 comentários:

Anônimo disse...

O amor petrifica até os mais fortes e seguros de si.

PauLØ_ disse...

Muito bom o texto meu bem...

O texto deixe evidente o quanto a mulher fica estagnada perante a possibilidade de viver um amor verdadeiro.

Há muitos casos em que a mulher ela se deixa levar pelo prazer em satisfazer o seu parceiro, mas muito destas mulheres que por sinal inteligentes, não consegui jogar com seus encantos, por justamentamente estar apenas ela vivendo esse amor, e amor tem que ser vivido por ambas as partes do relacionamente.

E sim como seria doce morrer de amor, porém um amor compartilhado...

Luis Carlos V. disse...

" L'amur " seria mais doce ainda viver com ele, amor é escolha não sorte!

Luis Carlos V. disse...

O que mais vivemos na verdade são desejos e sentimentos projetados...
Quando nosso tempo se curar então conseguiremos amar!

Paco Sales disse...

Otra belleza amiga mía, es un placer visitarte y disfrutar de tus entradas, hagamos del amor nuestra bandera. Un cariñoso abrazo para ti

J. BRUNO disse...

Ah o amor... eu acredito que só com ele consigamos viver de fato a plenitude de nossas vidas... Por mais que o prazer sacie nosso corpo, ele não é capaz de atingir a alma, tal como o amor, que parece transcender todas os nossas noções sobre relacionamentos... O lado ruim é que dificilmente conseguimos conciliar os dois, seja pelo amor amor não correspondido, ou pela constante busca pelo prazer que parece nos seduzir hipinoticamente...

Tirando o orgulho de ser mulher, acho que posso dizer que me identifiquei bastante com este seu belíssimo texto... ah e acho que percebi aqui alguns ecos da reflexão proposta pelo livro de Kundera. Estou certo ou estou errado??

Você não sabe o prazer enorme que foi ter visto postagem nova por aqui... Beijão linda!!!

Magali Geara Penna disse...

Joy, isso ta lindo... maduro. Voce é muito corajosa e logo viverá feliz em seu amor.

Não pare.

Voe.

William Ponciano disse...

Minha escritora favorita. Lindo texto esse seu. É de uma maturidade surpreendente, mas uma vez eu estou com aquele sentimento: "Meu Deus, essa menina é de fato uma escritora. E das boas." Eh Joy, esse tal de l'amour eh aquele que faz a gente se apaixonar, sofrer e desencantar durante toda nossa vida e mesmo assim não conseguimos viver sem ele. Vício divino, fraqueza constante, doce moto-contínuo da vida. Mas essa eh a graça desse l'amour. A parte do limão pra temperar foi muito boa, EXCEPCIONAL seu texto. Bjo Joy, que a musas - ou musos rsrsrs - inspiradores estejam contigo sempre e olha que eles te ajudam! Bjo.

Thiago disse...

Nossa! nem posso dizer o quanto fiquei animado com seu texto!
Ele é pura poesia. Você escreve de uma forma tão bonita. Vai nos conduzindo linha a linha. Parabéns! Estou encantado!


Um abraço!
Thiago Almeida,
O Filho do Vento
visite: http://thiago-ofilhodovento.blogspot.com/

:.tossan® disse...

Essa moça tá diferente
Já não me conhece mais
Está pra lá de pra frente
Está me passando pra trás
Essa moça tá decidida
A se supermodernizar
Ela só samba escondida
Que é pra ninguém reparar
Eu cultivo rosas e rimas
Achando que é muito bom
Ela me olha de cima e não me visita mais... CBH. Beijo moça