terça-feira, 26 de setembro de 2017

Compaixão

Pensei em começar este singelo texto fazendo uma pergunta na terceira pessoa:  “ Por que será que pegamos tão pesado conosco?”. Aí eu pensei, “Joy, você quer enganar a quem? Se o blog é seu e a pergunta é algo que tem a ver contigo, qual o motivo para  florear?”
 Sim, eu tenho intensos papos comigo o dia todo.
Começando então novamente, por que será que pego tão pesado comigo?
Comecei a pensar nisso depois de reler um trecho de A insustentável leveza do ser, do Milan Kundera, sobre a compaixão. Ele explica que este sentimento tem a ver com empatia com a dor do outro e  também com a capacidade de viver  com o outro emoções como a alegria ou mesmo a angústia. Nas palavras de Kundera, a compaixão é o “sentimento supremo”. 
É trabalho “mais fácil” me compadecer dos erros alheios. É sempre um tal de “mas fulano deve ter sofrido também”,  e “fulana deve ter penado”, etc, mas quando o erro é meu, parece que há um peso inexplicável a se carregar:  a dor de ter errado, a dor do “e se eu tivesse feito diferente?”,  a dor de tentar me compadecer, quase conseguir e voltar a me culpar. Se perdoar alguém requer um olhar de maturidade e clareza, o autoperdão esbarra nestes fatores e numa certa noção de que precisamos também de uma dose de bondade, um olhar para dentro de si de forma desarmada.
Por que, então, continuo a  pegar tão pesado comigo?
Às vezes penso que é porque do outro posso me despedir. Eu, ao contrário, moro comigo. Não posso falar “Te vejo semana que vem, Joy”, porque sou minha casa 24 horas por dia, 7 dias por semana sem dar sossego. Quando deito no travesseiro, sou eu que me embalo até pegar no sono ou sou eu que me dou bronca pelos erros. Ah, se um dia eu pudesse ver meu passado inteiro....  ( este parêntese é para chamar minha própria atenção e dizer “Joy, pare de querer citar o Kiko Zambianchi).
Este post sem pé nem cabeça é apenas um exercício de memorização de algumas coisas que sei na teoria, mas que na prática são um bocado difíceis de realizar:
Devo ser gentil comigo, me olhar com olhos de compaixão. Não, não devo esquecer de meus erros. Preciso olhar para eles com a firmeza de quem reconhece que fez errado mesmo com boas intenções e saber que o passado não volta , mas que há um claro futuro (De novo fazendo citações.....) pela frente.
Preciso deixar as portas da minha própria percepção abertas para saber receber também as outras emoções, mas também aprender a perdoar e a pedir perdão para mim.

Não será depois destas linhas tortas que resolverei tudo, isso é verdade. Mas quero voltar nelas sempre que for rude comigo... Uma hora incorporo este mantra todo! E aí, se no meio do caminho, você (agora falo contigo mesmo, que eventualmente pode estar lendo), se identificar, espero que possa se perdoar também, ou ao menos saber que isso é possível um dia. 

Para encerrar, vamos ao Kiko, já que não vejo outra música para fechar este post.




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